É possível apagar uma memória com hipnose? O que a ciência diz

Arte abstrata de silhueta humana com memórias se dissipando, símbolos de neurônios e ondas cerebrais ao fundo, sugerindo hipnose e ciência.

As memórias têm um papel fundamental na formação da nossa identidade e na maneira como vivemos e percebemos o mundo. Mas e as memórias dolorosas ou traumáticas que gostaríamos de esquecer? A hipnose é uma técnica que há muito tempo desperta interesse por sua capacidade de trabalhar com o subconsciente, e muitos se perguntam: seria possível apagar uma memória completamente usando hipnose? Neste artigo, vamos explorar o que a ciência diz sobre isso, como a hipnose realmente funciona e quais são os limites dessa prática no tratamento de traumas e memórias.

O que é hipnose e como ela atua no cérebro?

A hipnose é um estado de relaxamento profundo e de intensa concentração, no qual a mente está altamente receptiva a sugestões. Durante a hipnose, as áreas do cérebro que regulam a autoconsciência e o processamento de emoções podem se tornar mais maleáveis. Isso permite que o terapeuta sugira novas formas de lidar com emoções, crenças e percepções. Embora pareça que a pessoa hipnotizada perca o controle, na realidade ela está consciente e pode recusar sugestões que não sejam condizentes com seus valores ou segurança.

A hipnose pode apagar uma memória?

Cientificamente, apagar uma memória completamente através da hipnose é improvável. A memória humana é complexa e distribuída em diversas partes do cérebro, o que torna difícil “apagar” lembranças como se fossem arquivos de computador. Em vez disso, a hipnose trabalha com a reinterpretação e o recondicionamento emocional de uma lembrança. Ou seja, em vez de eliminar a memória, a hipnose pode diminuir a carga emocional associada a ela, tornando-a menos dolorosa ou impactante.

O que a ciência diz sobre hipnose e memórias traumáticas?

Diversos estudos indicam que a hipnose pode ser eficaz na redução do sofrimento associado a memórias traumáticas. Ao revisitar essas memórias em estado de hipnose, é possível modificar o modo como a pessoa sente e percebe esses eventos passados, reduzindo o sofrimento. A técnica, conhecida como “ressignificação”, envolve reformular a emoção atrelada à memória para que ela perca o poder de causar dor ou medo intenso.

A American Psychological Association (APA) e outros órgãos de psicologia reconhecem a hipnose como uma técnica válida para lidar com transtornos como o estresse pós-traumático, embora seja enfatizado que a hipnose, por si só, não apaga memórias, mas atua como uma forma de terapia complementar para aliviar os sintomas.

Como a hipnose atua na ressignificação de memórias?

Durante o estado hipnótico, o terapeuta pode guiar o paciente a ressignificar uma memória específica, inserindo novas interpretações e emoções. Essa ressignificação pode incluir:

  • Mudança de perspectiva: Ajudar o paciente a ver a experiência de uma forma menos dolorosa, focando em aspectos de superação.
  • Desensibilização emocional: Reduzir o impacto emocional que a lembrança causa, transformando uma reação intensa em uma reação neutra ou tolerável.
  • Fortalecimento emocional: Auxiliar o paciente a desenvolver uma nova resposta emocional diante da lembrança, como a sensação de controle ou superação.

Essas técnicas não apagam a memória, mas podem modificar a maneira como ela é armazenada e acessada pelo cérebro, o que, na prática, diminui a dor ao lembrar-se do evento.

Limites e mitos sobre hipnose e memória

Existem alguns mitos sobre hipnose que precisam ser esclarecidos:

  1. Hipnose não apaga memórias: O máximo que pode ser feito é reduzir o impacto emocional, mas a lembrança ainda estará lá.
  2. Sugestões não vão contra a vontade da pessoa: A hipnose não faz ninguém agir contra a própria vontade, e as sugestões podem ser rejeitadas pelo paciente.
  3. Memórias suprimidas podem não ser precisas: Há casos em que a hipnose é usada para acessar memórias suprimidas. No entanto, a ciência mostra que memórias “recuperadas” podem ser distorcidas e nem sempre representam fatos.

Por isso, a hipnose não deve ser usada com o objetivo de “recuperar” ou “eliminar” memórias, mas sim para ajudar a pessoa a lidar melhor com elas.

Alternativas à hipnose no tratamento de memórias traumáticas

Além da hipnose, existem outras terapias que auxiliam na ressignificação de memórias traumáticas:

  • EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares): Técnica eficaz para reprocessar traumas, promovendo novas associações positivas com memórias dolorosas.
  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Trabalha na reestruturação de pensamentos, promovendo novas respostas emocionais a eventos do passado.
  • Terapias de Aceitação e Compromisso: Ajudam o paciente a aceitar o passado e viver de forma plena, sem buscar apagar as memórias.

A hipnose é uma ferramenta valiosa, mas não um “apagador de memórias”

Embora a hipnose seja uma técnica poderosa para aliviar o sofrimento associado a memórias traumáticas, é importante entender que ela não age como um “apagador de memórias”. A hipnose pode modificar a maneira como lembramos de certos eventos, tornando-os menos dolorosos, mas a lembrança ainda permanecerá. Em vez de buscar esquecer, muitas vezes o caminho mais eficaz para o bem-estar mental é aprender a lidar e aceitar essas lembranças, integrando-as de maneira saudável à nossa história de vida.

Para quem sofre com memórias dolorosas, a hipnose pode ser uma opção valiosa em conjunto com outras terapias, promovendo maior equilíbrio emocional e qualidade de vida.